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09/05/2017

CASE STUDY: Alitalia, a companhia que faz a TAP parecer eficiente

A Alitalia entrou em processo de venda (ou de falência) depois dos seus 12 mil trabalhadores terem rejeitado um acordo que permitiria manter a Alitalia no ar e preferirem uma aterragem de barriga.

Trata-se de mais uma história de uma morte anunciada. Entretanto, alguns dados:
  • Contas anuais apresentam perdas há 25 anos;
  • Recusa da possibilidade de fazer parte de um grupo maior pelo menos por duas vezes nos tempos recentes (KLM em 2003 e Air France em 2008);
  • Em 2008, foi privatizado o activo da Alitalia (Etihad – 49%?), ficando o passivo a cargo do estado (onde já vimos isto?);
  • Também 2008, para além dos contribuintes assumirem mais uma vez as perdas, foram dados benesses impensáveis a 1500 trabalhadores “reestruturados”: 4 anos de salário (80%, incluindo diversas verbas adicionais), mais três anos de mobilidade estendidos mais tarde por mais dois anos. Ou seja, um total de 9 anos de salário (mais ou menos 80%) garantido sem terem de trabalhar;
  • Nesse mesmo ano, foram derrogadas normas anti-trust para as rotas internas (que ainda se mantêm em vigor hoje, passados 9 anos);
  • Em 2013, a Alitalia voltou a ser recapitalizada através dos… correios italianos!
  • Em 2014 mais 1199 trabalhadores são “reestruturados”. Foi dada a esses trabalhadores a possibilidade de beneficiarem da ajuda de agências especializadas de colocação no mercado de trabalho. Mais de 84% dos trabalhadores NÃO se inscreveram… Há um ano, foram detectados 36 trabalhadores a receberem salário por nove anos a… trabalharem para companhias concorrentes! Julga-se que serão muito mais do que 36.
Agora, trata-se de resolver um assunto de forma atabalhoada, com uma posição negocial fraquíssima, com compromissos impossíveis de destrinçar.

Ainda bem que existe a União Europeia que impede o estado italiano de torrar mais dinheiro na companhia.

(De um email do meu amigo AB, italiano nacionalizado)

Tudo isto parece-se demasiado com mais um caso do que baptizei em tempos Efeito Lockheed TriStar (seguir link para saber porquê).

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