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22/02/2017

DIÁRIO DE BORDO: O direito a contaminar (republicação)

Recentemente a Direcção-Geral da Saúde alterou a sua norma relativa a «Dadores de sangue, comportamento sexual, critérios de suspensão» limitando as dádivas de homossexuais e bissexuais. Parece que esta alteração não caiu bem no lóbi gay, a avaliar pelas reacções do jornalismo das respectivas causas.

Propus-me comentar essas reacções até que me recordei ter escrito há algum tempo sobre este tema. Reli o post e concluí que, um ano e meio depois, se mantém bastante actual e resolvi por isso republicá-lo. Aqui vai.

Para alguém que olhe sem preconceitos negativos ou positivos para os comportamentos dos humanos, é razoavelmente evidente que a fixação dos lóbis gays no casamento unissexo, finalmente legalizado em Portugal há 5 anos, tem pouco a ver com a instituição do casamento em si mesma e muito mais com a necessidade de «normalizar» o seu status social.

De facto, como aqui escrevi, para a «comunidade» gay, com décadas de casamentos em atraso, mil e seiscentos casórios em 5 anos deveria ser uma decepção, sobretudo nestes tempos em que os casais normais no sentido gaussiano já quase deixaram de se casar, convencidos por décadas de propaganda politicamente correcta que o casamento era uma instituição burguesa decadente e não significava nada, a mesma propaganda politicamente correcta que convenceu os gays que o casamento significava tudo.

Algo semelhante se passa com a adopção numa época em que os casais «normais», além de cada vez menos se casarem, têm cada vez menos filhos cada vez mais tarde, por uma série de razões conhecidas. A menos que se descobrisse uma pulsão maternal e paternal «anormal» nos gays, a fixação dos seus lóbis na legalização da adopção tem com toda a probabilidade a mesma explicação - a necessidade de «normalizar» o seu status social.

A terceira vertente da «normalização» é a dádiva de sangue. Não parece que os gays individualmente considerados tenham uma pulsão para a dádiva de sangue mais forte do que a dos heterossexuais que, como é sabido, são relutantes em se deixarem sangrar. Outra vez ainda, são os seus lóbis que fazem a despesa da «luta», frequentemente usando a chantagem sobre os gays ainda dentro do armário em posições influentes para usarem essa influência.

Contudo, neste domínio a coisa fia mais fino porque o uso de sangue contaminado com HIV tem óbvios riscos para os receptores. A exemplo do que se passa nos EU, onde a FDA continua a não autorizar a dádiva por homossexuais, também em Portugal não é autorizada. Pois bem, tudo indica que o lóbi gay está em vias de conseguir infligir uma derrota à saúde pública: «o relatório "Comportamentos de risco com impacto na segurança do sangue e na gestão de dadores", a que a Lusa teve acesso, estabelece "a cessação da suspensão definitiva dos candidatos a dadores homens que têm sexo com homens (HSH) [homossexuais e bissexuais] ", uma decisão tomada por unanimidade entre os oito elementos do grupo de trabalho». Do relatório para a lei vai um passo que o lóbi gay jornalístico já deu, uma vez que anuncia que a «dádiva de sangue por parte de homossexuais vai passar a ser permitida».

Perguntar-se-á, mas os heterossexuais não têm HIV e não doam sangue? Claro que podem ter e têm HIV e podem doar e doam sangue. A enorme diferença é que, para utilizar o caso dos EU, os homens gays e bissexuais representam aproximadamente 2% da população e 57% das pessoas com HIV diagnosticado, ou seja a probabilidade a priori de um gay estar infectado é 65 vezes maior do que um não gay. Assim, sendo o risco tão desproporcionado a dádiva de sangue por um gay deveria no mínimo estar condicionada à apresentação de um teste negativo válido.

Por miopia e falta de coragem de ir contra a corrente do pensamento politicamente correcto, as luminárias domésticas confundem o direito à união legalizada (inadequadamente denominada casamento) com os «direitos» à adopção e à dádiva de sangue, que, se fossem direitos, seriam das crianças alvo da adopção e dos receptores de sangue.

1 comentário:

Anónimo disse...

Desculpe, Impertinente, mas aqui discutiu-se normalizações, necessidades, direitos e outras palavras chics. Olhe que não se falou em sinistros.
Creio que me enganei no link e fui parar nem sei onde.