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02/01/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (64)

Outras avarias da geringonça.

Segundo dados divulgados pelo INE relativos a Setembro, a poupança das famílias continua sem ultrapassar os 4%. A boa notícia é que o saldo externo de bens e serviços aumentou para 1,3% do PIB (+0,2%) em relação ao 2.º trimestre .

Esgotadas as "reposições de direitos", a geringonça começa a debater-se com falta de bandeiras. A nova frente de luta de comunistas e berloquistas é o aumento do número de dias de férias e dos feriados. Não se pense, porém, que a geringonça se vai desconjuntar por discórdia nos próximos tempo, numa bela manhã de nevoeiro, porque todos precisam dela para subsistirem.

Recordem-se os tambores a rufarem de cada vez que comunistas e berloquistas sonhavam que o bendito SNS não tinha os recursos adequados e vejam-se os comunistas quase a pedirem desculpa ao governo por implorarem mais médicos e enfermeiros. É certo que o ministro de facto da Educação já mandou o factótum admitir mais 20 mil professores até 2019, e ameaçou mesmo com umas reguadas, mas no fim tudo se resolverá com umas centenas de admissões,

Quanto ao plano de regularização de dívidas ao fisco e à Segurança Social (PERES) rendeu este ano 550 milhões (0,3%) essenciais para cumprir a única meta orçamental que no passado era uma obsessão da direita. E ainda vai dar uma ajudinha de 880 milhões para os défices dos anos seguintes. É claro que estes expedientes de facilitar a vida à evasão fiscal eram uma iniquidade do governo de direita, mas feitos por um governo de esquerda são outra coisa.

Bem pode a geringonça iniciar novo PERES porque as dívidas à segurança social, que em 2015 já tinham aumentado 760 milhões (o que se percebia tratando-se de um governo "neoliberal"), voltaram a aumentar em 2016, desta vez 830 milhões (o que não se percebe tratando-se de governo socialista).

Por falar em novas e surpreendentes obsessões da geringonça (o défice), falemos nas antigas que se perderam, como a da santidade do investimento público que, como mostra o diagrama do Expresso (e se eles o escrevem...), foi o mais baixo desde 1999 nos 3 primeiros trimestres.


Na semana passada poderíamos ter assistido a um grande escândalo nacional e a um tsunami de indignação se ainda por aí andasse o governo anterior e Rui Machete tivesse comparado a concertação social a uma feira de gado. Como foi o trauliteiro Santos Silva a coisa esvaziou-se logo e o lodo foi chutado para cima dos jornalistas que filmaram a cena.

O pendor deste governo para a mentira não poupa os seus parceiros da geringonça. Confrontado pelo apêndice comunista dos Verdes com o facto de a redução da TSU violar o acordo da geringonça, Vieira da Silva garantiu que não, porque é uma medida «temporária e excepcional» - o acordo assinado com o PEV diz expressamente «não constará do Programa de Governo qualquer redução da TSU».

Pendor para a mentira e, acrescente-se, para a golpada. São socialistas nove das dez câmaras que receberam dinheiro ao abrigo do regime de cooperação técnica e financeira com o poder local. Considerando que das 308 câmaras só 133 são socialistas, a probabilidade a priori de saírem 9 socialistas para receber a grana é uma coisa da ordem dos 2,6 por mil. É tudo uma questão de probabilidades, pois não é verdade que quase todas as semanas há até quem ganhe o Euromilhões?

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